VOCÊ É CONTRA O FEMINISMO?

Espantei-me quando sugeri a uma amiga para ela assistir ao filme “As sufragistas”, e ela me disse que não gosta dessas coisas.— Não gosto dessas coisas de feminismo. – explicou ela.

Foi aí que percebi que o conceito de feminismo foi sendo deturpado, ao ponto de receber uma conotação erroneamente negativa. Pois não é possível que uma jornalista como minha amiga não seja adepta do feminismo, definido pelo próprio dicionário como ideologia que defende a igualdade econômica, política e social entre homens e mulheres. Assim, se você é contra o feminismo, então, você concorda que a mulher não deve ter opinião nem ganhar o mesmo salário que os homens pelo mesmo trabalho exercido.

Eu também não sabia se era feminista. Até fazer um trabalho para a faculdade, onde tive que fazer uma extensa pesquisa sobre o tema. Como esse trabalho me acrescentou muito, decidi dividí-lo com você em uma série de textos que publicarei aqui em homenagem ao mês da mulher.

Graças a guerreiras da história, hoje, para ser feminista, não precisamos de atos de violência. Mas é importante entender e respeitar  porque outr’ora mulheres tiveram que radicalizar o movimento, a fim de que eu pudesse ter o direito de escrever aqui e agora.

Vamos começar a entender o papel da mulher ao longo da história.

“desde o início da última guerra— e eu nunca vi uma paz tão completa em 

toda minha vida – Vimos suportando normalmente, isto é, em silêncio e humildade, Como vocês inventaram que é próprio das mulheres, a tremenda estupidez das ações masculinas. As regras patriarcais impõem que a mulher não deve abrir a boca, ou melhor,  só devem fazer isso silenciosamente, boqueabrindo-se de admiração diante da inteligência, da beleza ou dos  atos de valor do amante, pai, marido, irmão. Qualquer macho que esteja a seu lado, por mais estúpido, torto, vesgo ou covarde que ele seja. E Como obedecíamos ao jogo social, a canalha masculina, cuja superioridade se define toda num pênis eriçado, acreditava que éramos felizes. Que aplaudíamos a maneira como conduziam os acontecimentos. Ah, quanta insensatez, quanta cegueira! Muitas vezes, ouvíamos vocês discutindo, decidindo a vida e a morte do povo, a sorte e a felicidade dos nossos. compatriotas. Eu os argumentos nos pareciam vistos pelo avesso e de cabeça para baixo. Arriscávamos,, então uma pergunta temerosa. Com o coração pesado, mas , mantendo um sorriso, indagávamos: – Querido, na assembleia, hoje, você falou alguma coisa pela paz?

Pra que? A resposta vinha sempre como um trovão, pois vocês sabem tudo. – O que é   que você tem com isso? Isso é da sua conta? Onde é que se viu mulher se imiscuir em interesses públicos?  Cala a boca!

E Adivinha o que fazíamos nós? Calávamos a boca.”

Essa é minha fala preferida de Lisístrata, personagem que dá nome à minha peça grega favorita, escrita por  Aristófanis, em 411 a.C. Trata-se da história de um grupo de mulheres que, para acabar com a guerra entre Esparta e Atenas, decidem fazer greve de sexo. 

 Apesar de ser uma peça de vanguarda para a época,  porque mostra a força da mulher, é nítido, no trecho colado, a posição da mulher a época, na sociedade: de submissão e subserviência ao homem.

Nem sempre foi assim. Há mais de vinte mil anos, em uma época denominada como selvageria, a mulher era colocada no topo da hierarquia, por ter o poder de gerar filhos. No período da barbárie, contudo, o homem descobre que também é responsável pela geração de descendentes, e a sociedade passa a ser patriarcal, coisificando a mulher, que passa a uma posição de inferioridade contra a qual luta até hoje.

A literatura, as tele-novelas, a arte em geral, é uma excelente maneira de se ilustrar os costumes de uma sociedade. Na obra da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), é possível perceber a posição feminina da época. A mulher tinha que encontrar um marido, a qualquer custo, pois, a herança passava somente aos descendentes homens. No livro “Orgulho e Preconceito”, Elisabeth, uma das cinco filhas da família Benet, é rechaçada pela mãe, ao se recusar a casar com o primo, natural herdeiro do pai das meninas.

No Brasil, temos a novela da Globo, Sinhá Moça, de Benedito Rui Barbosa, baseada no livro homônimo, de Maria Dezonni Pacheco Fernandes, em que a protagonista, filha do barão do café, que era escravocrata, era republicana e abolicionista, em uma época em que mulher não tinha voz. A obra, que passa no fim do Império no Brasil, mostra a condição da mulher, reprimida sexual, política e intelectualmente. A personagem de Sinhá Moça é um símbolo do início do rompimento dessa condição feminina, tendo em vista que ela lutava para não se render à dominação do pai e do marido.

Nas obras de ficção de hoje, a mulher já não é a personagem frágil que precisa ser salva pelo príncipe encantado. Ela trabalha fora, sustenta a família. Até a Disney acompanhou as mudanças. Em “A princesa e o Sapo”, a heroína é uma garçonete negra, que trabalha para juntar dinheiro a fim de ter o próprio restaurante.

Como nasceu o Feminismo?

O conceito de feminismo nasceu no século XIX e se desenvolveu como movimento filosófico, social e político. Sua principal característica é a luta pela igualdade de gêneros e pela participação da mulher na sociedade. 

Em 1791, a feminista francesa Olympe de Gouges escreveu “A declaração dos direitos da mulher e da cidadã” que combateu “A declaração dos direitos do homem e do cidadão”da Revolução Francesa de 1789. Em seu documento, Olympe criticava o fato de a declaração da Revolução Francesa só se aplicar aos homens. Ela também advertia sobre a autoridade masculina e discorria sobre a importância da mulher e a igualdade de direitos. Por isso, foi morta em 3 de novembro de 1791. O fato, contudo, impulsionou o surgimento de diversos movimentos feministas e é um dos marcos do feminismo.

no século seguinte, na Revolução Industrial, a mulher começou a trabalhar nas fábricas, tornando-se parte da economia do país. Nas culturas ocidentais, o movimento feminista passou a ter maior visibilidade a partir do século XX, tendo como sua principal filósofa a francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), autora da célebre frase “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Em seu ensaio “O segundo sexo”, Simone faz uma análise da mulher na sociedade. 

 

Ondas do feminismo

Onda feminista é um momento histórico marcado por determinadas pautas. Existem três ondas do feminismo, mas há quem diga que já estamos na quarta onda.

A primeira onda data do final do século XIX início do XX. As principais reivindicações eram o direito ao voto e a abolição da escravatura. As feministas de primeira onda questionavam a imposição de papéis submissos e passivos das mulheres. A retórica predominante desta onda é o liberalismo e o universalismo. Estas feministas defendiam que, por serem iguais, principalmente intelectual e moralmente, homens e mulheres deveriam ter as mesmas oportunidades de estudo, de trabalho, de participação política. 

A segunda onda vai da metade da década de cinquenta e se extende até meados dos anos noventa do século XX. Geralmente, entretanto,  essa onda  refere-se ao feminismo radical, que teve sua fase mais ativa entre as décadas de sessenta e setenta. Esta onda é marcada pela luta dos direitos reprodutivos e pelas questões sobre sexualidade.

É por volta desse período que começa a distinção de sexo e gênero. Sendo aquele entendido como uma característica biológica, e este, uma construção da sociedade, um grupo de características e de papéis imposto ao indivíduo, dependendo de seu sexo. 

A segunda onda é marcada por protestos contra o concurso de Mis Estados Unidos, em 1968 e 1969. Segundo as manifestantes, esses eventos de beleza tratavam a mulher como objeto, perpetuando a noção de que a aparência da mulher vale mais que seu intelecto.

As feministas de segunda onda criticam a prostituição e são as pioneiras na crítica à pornografia. Também combatem a exploração da mulher que ocorre através da maternidade e do casamento. O uso do estupro e da violência sexual como ferramenta de manutenção do poder do homem também é objeto de estudo desse período.

A terceira onda chega na década de 1990 e é associada ao surgimento de movimentos punk femininos, cuja ideologia girava em torno da completa negação do corporativismo e da defesa do “faça você mesmo”

Essa fase é caracterizada pela interseccionalidade: uma ferramenta para que mulheres atingidas por vários tipos de opressão (etnia, nacionalidade, classe, sexualidade) pudessem analisar sua condição. 

Se as fases antecedentes  queriam quebrar esteriótipos femininos, a terceira onda queria se apropriar deles, assumindo o batom e o salto, em defesa da liberdade individual de cada uma. A pornografia e a prostituição saíram da seara da violência, a fim de serem estudadas no âmbito da sexualidade, enquanto possibilidades de libertação. 

Parte da academia admite uma quarta onda do feminismo, caracterizada pelo uso maciço das redes sociais para organização, conscientização e propagação das ideias feministas. 

Apesar de não existir uma uniformidade teórica, são aapontadas como temas da atualidade a cultura do estupro, a representação da mulher na mídia, os abusos no ambiente de trabalho e a postura de recusa e denúncia ao silenciamento. É comum, no entanto, que as feministas de quarta onda rejeitem o rótulo de feministas, simplesmente por rejeitarem rótulos em si.

No próximo post, vamos entender os diferentes tipos de violência contra a mulher e vamos saber porque Maria da Penha inspirou a criação de uma lei.

#soufeministaetenhodireitodedizernão

Às Escuras no Parque

Brinquedo da Universal para de funcionar com a gente dentro

Os demais dias em Orlando, eu havia reservado para ir aos parques. Estava tudo esquematizado e combinado com a guia. Porque eu havia comprado um ticket para o Discovery Cove, eu tinha direito a ir no Sea World e no Aquatica e havia reservado a quarta para ir lá. A quinta estava reservada para o Animal Kingdon e Epcot, e, como a maioria dos brinquedos nesses dois parques da Disney são visuais, se desse tempo, iríamos aos demais parques do complexo, Hollywood e Magic Kingdon,. Na sexta, iríamos aos dois parques da Universal; no sábado, eu iria ao Discovery Cove, e, no domingo, uma amiga da Priscila iria comigo ao Madame Tussauds na roda gigante.

Tendo em vista que o tempo estava meio ruim, na quarta, decidimos ir à Disney. Ao subir no carro da guia, contudo, ela me informou que o passe dela não dava direito para ir a mais de um  parque da Disney no mesmo dia, contrariando o que havíamos combinado. Por estar sozinha no carro de uma pessoa estranha, achei melhor não discutir. Ela até sugeriu que eu procurasse outro guia. Mas onde eu iria encontrar, em cima da hora, outro guia? Infelizmente, os parques nos Estados Unidos não oferecem assistência a deficientes visuais. Então, eu teria que pagar um guia, mas pagar o passe dele sairia do orçamento.

Em momentos como esses, lamento por estar cega ou não ser rica. Se eu enxergasse, poderia ir sozinha aonde quer que fosse e não teria que gastar tanto dinheiro para pagar alguém para me acompanhar. Se eu tivesse dinheiro saindo pelas orelhas, eu acharia outro guia em cima da hora, bastava pagar o preço que fosse. Por outro lado, se eu não estivesse cega, não estaria nos Estados Unidos buscando um cão guia e, talvez, nunca tivesse tido a oportunidade de ir a Orlando.

Fazendo limonada com os limões da vida

Minhas férias tão esperadas já não estavam saindo conforme o programado. Mas eu tinha que tirar o máximo de proveito com o que eu tinha. Uma vez que  eu já conhecia o Hollywood e o Magic Kingdon, decidi ir ao Animal Kingdon, por causa do simulador do Avatar.

Como minha guia não havia providenciado o fast pass (para não pegar fila), sugeri que nos informássemos se o parque disponibilizava fast pass para visitantes com deficiência. Apesar de ser guia profissional, minha acompanhante não sabia onde ficava o guest service (atendimento ao público) nem falava inglês. Por isso, perdemos bastante tempo procurando pelo serviço. E, ao encontrarmos, informaram-nos de que deveríamos ter providenciado o fast pass pela internet – informação a qual penso que uma pessoa que se diz guia deveria saber, ainda mais eu a tendo informado previamente que era deficiente visual. Ao questionar o que eles poderiam fazer por mim, explicaram-me que eu poderia ir à atração que desejasse e marcar uma hora para visitá-la. Exemplo: se a fila do brinquedo era de duas horas, eu voltaria duas horas depois. Mas eu só poderia repetir o procedimento depois de ter ido na atração a qual eu havia marcado hora. Para tanto, eu deveria ir a um outro local tirar foto para eles incluirem uma espécie de cadastro no sistema. Pelo fato de o simulador do Avatar ter duas horas de espera, agendei o horário, e fomos a outro brinquedo, enfrentando fila. Nesse meio tempo, também aproveitamos para almoçar.

Contudo, a espera compensou. Realmente, o simulador do Avatar vale a pena, principalmente para quem não enxerga.  Além das sensações do bicho do Avatar se mexendo, a gente sente cheiros e a temperatura. E, para deficientes visuais, eles disponibilizam um fone de ouvido com áudio descrição do que se vê ao redor. Entretanto, não entendi muito bem , pois os sons do simulador eram mais altos do que a narração. Mas valeu a intenção.

Perguntei à guia se havia algo mais para ver, e, 

 como ela confirmara que o restante era visual, fomos embora.

Por $ 150,00, eu havia contratado a guia por doze horas. Então, decidimos ir ao museu Madame Tussauds, o qual vale um post só para ele.

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Eu sentada no trem que liga os dois parques da Universal.

Uma cega presa no brinquedo!

Na quinta, fomos aos dois Parques da Universal e, eu estava decidida a ir, pela primeira vez, em uma montanha-russa com lupping. Entretanto, o simulador do Harry Potter deu pani justamente na nossa vez. Sorte que não estávamos em uma posição ruim. Mas o fato de estar presa pela trava de segurança, sem poder sair dali,  dava uma agonia. Não se ouvia ninguém falar. Ainda bem que a pani durou somente alguns minutos. Minutos estes suficientes para eu decidir que não iria experimentar montanha russa com lupping, porque, se ela parasse comigo de cabeça para baixo, acho que morreria! 

Na saída do simulador do Harry Potter, claro que tomei a tal cerveja de manteiga. Parece uma Cream soda (refrigerante que só tomei nos EUA), no entanto, mais doce. É diferente. Eu gosto.

Fui a todos os simuladores dos dois parques da Universal. Só fiquei chateada porque perdi meu boné no brinquedo do Jurassic Park na hora da queda. Era meu boné preferido, porque tinha a aba bem larga e o tecido bem fresquinho, com dois golfinhos em relevo e eu havia comprado na minha viagem a Natal (RN). Tive que comprar outro boné, pois, apesar de estar cega, meus olhos são intolerantes à luz solar. Então, comprei um branco escrito Universal em relevo. Porém, o tecido não é fresquinho como o do boné perdido.

Já que  minha guia havia garantido que as demais montanhas russas tinham lupping, acabamos indo só na da múmia. Pelos parques estarem praticamente sem fila, terminamos de

 visitá-los cedo.

Do lado de fora  da Universal há vários restaurantes e bares. Um deles, o Voodoo Doughnut, que havia recém-inaugurado sua filial por ali. Tendo em vista que eu havia lido várias recomendações na internet, claro que um donut do local estava no meu roteiro.

A fila para entrar era enorme e estava lá fora. Porque nos Estados Unidos não há fila preferencial, tive que enfrentar a fila, a fim de matar minha curiosidade. Eu tinha vontade de comer um dos seus clássicos, o Voodoo Doll, que é recheado com geléia de framboesa, coberto com chocolate branco e um pretzol. 

Ao chegarmos mais perto da fila, a guia me informou que os donuts ficavam rodando para a gente escolher. Perguntei se o donut que eu queria estava exposto, e ela disse que não havia nada parecido. Como eu não me lembrava o nome do clássico para perguntar para a atendente, e a guia não conhecia o local, acabei pedindo um donut com frutas vermelhas. Talvez, eu não tenha feito a escolha certa, pois eu não achei nada demais no donut. Até já comi melhores em Curitiba. Tendo em vista que a fila continuava grande, não arrisquei comprar outro e demos o dia por encerrado.

Andando no estacionamento, porém, minha guia não encontrava seu carro. Andamos, procuramos e nada. Até que ela me deixou sentada em uma escada do estacionamento, porque notou que eu estava muito cansada. Fiquei rezando e mentalizando o encontro do carro e aproveitei  para fazer um alongamento. É muito cansativo visitar esses parques, porque passamos a maior parte do tempo andando ou em pé nas filas. Depois de algum tempo, a guia voltou nervosa, por não ter encontrado seu carro. Ela queria me colocar em um Uber que me levasse para casa, enquanto continuava sua busca. Mas eu não achava justo deixá-la sozinha naquela situação. Então, ela teve um insight, foi buscar o carro de novo e  o encontrou finalmente.

Como eu havia tido alguns contratempos com a guia, decidi dispensá-la e, na sexta, fiquei descansando na casa dos meus amigos, para o dia seguinte, que era meu grande dia, em que eu nadaria com golfinho.

Danieli Haloten